O professor Cláudio Lopes, do Instituto de Química CCMN, desenvolveu uma tinta invisível pelo Laboratório de Análise e Síntese de Produtos Estratégicos (Lasape), coordenado por Cláudio. Trata-se de uma substância detectável sob luz ultravioleta, que pode ser usada para marcar cédulas ou obras de arte, auxiliando na identificação de objetos roubados. Por não ter efeitos tóxicos, a tinta pode ser aplicada em animais. Segundo o professor, as pesquisas do Lasape contam com o apoio da Faperj, fundação ligada à Secretária Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação e foram desenvolvidas em equipe integrada por Rosangela Lopes, Jarí Cardoso, Maicon Miranda, José Roque Carvalho e Gláucia Slana. O trabalho envolveu também a criação de substâncias sintéticas que são capazes de inibir toxinas presentes no veneno de diferentes espécies de cobras. A autoria da inovação é do Laboratório de Química Bioorgânica (LQB) do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) e do Laboratório de Farmacologia de Toxinas (LFT) do Departamento de Farmacologia Básica e Clínica (DFBC), ambos da Universidade. Da equipe de pesquisadores da UFRJ são citados o químico Walter Mors, o farmacêutico Alcides José Monteiro da Silva, e Paulo Roberto Ribeiro Costa, coordenador da pesquisa.
“A tinta pode ajudar muito na segurança”, comemora o químico Cláudio Lopes, coordenador do projeto. O estudo foi apresentado recentemente à comunidade científica em uma conferência realizada no Queen’s College, em Oxford, Inglaterra. “Com a marcação é possível identificar se algum objeto te pertence”, completa. Tintas invisíveis já são produzidas em outros lugares do mundo e usadas por empresas de segurança. Mas essas empresas geralmente não as vendem separadas, somente em pacotes com outros serviços. Muitos cartões de crédito internacionais também possuem marcações com essas tintas, que só podem ser vistas com o ultravioleta.
A descoberta da tinta aconteceu por acaso. Os pesquisadores preparavam uma substância intermediária para a produção de um antiofídico quando, de repente, faltou luz. O estudante de química Maicon Guerra utilizou uma lâmpada ultravioleta para procurar um objeto e, ao dirigir seu foco para a substância (3-aril cumarina), ela produziu uma grande luminescência. O grupo do Laboratório de Análise e Síntese de Produtos Estratégicos (Lasape) do Instituto de Química desenvolveu então uma mistura de solventes – semelhante à usada em impressoras a jato de tinta – para solubilizar as cumarinas e produzir a tinta invisível. “Eu fui correndo contar pro professor e aí partiu dele a idéia de a gente começar a testar marcações coma substãncia”, conta Maicon Guerra, estudante. A partir daí foram dois anos de pesquisas para transformar o que seria o soro contra veneno de cobra numa tinta invisível, que parece mesmo coisa de cinema. O professor e o estudante juntaram solventes à substância e obtiveram a tinta que só é visível sob luz ultravioleta. Eles dispuseram-na dentro de canetas marca-texto. A tinta pode ser aplicada ainda com carimbos ou pincéis.
A marcação pode ser muito útil em casos de extorsão e seqüestro. “Podemos marcar as cédulas e depois provar de quem eram”, indica Lopes. “Documentos que devem ficar restritos em uma sala de segurança também podem ser marcados pois, ao passarem por um detector de ultravioleta, os documentos irão fluorescer e acionar uma câmera capaz de identificar o autor do furto”, exemplifica. Outro uso importante é a impressão de marcas d’água com essa tinta para assegurar a veracidade de um documento. “É também possível marcar pneus e outros acessórios de automóveis para que se identifique se foram roubados ou trocados”, ressalta. “A idéia é fazer com que o material tenha utilização popular, para diferenciar os bens materiais das pessoas”, disse Cláudio Lopes, coordenador do projeto. De acordo com o químico, a substância pode ser útil em diferentes finalidades, como para evitar roubo de carros, autenticar documentos ou auxiliar na identificação de cédulas falsas. “Os carros podem sair de fábrica com várias peças marcadas, por exemplo, além de ter o número do chassi impresso com a tinta invisível. Em caso de roubo, seria possível identificar a real procedência do automóvel evitando situações de clonagem”, explica Lopes.
A tinta não é tóxica e pode ser aplicada em animais. “Ela pode ser usada para marcar o gado e substituir o ferro em brasa e o uso de ácidos”, explica o químico. Um bom lugar para marcação é a parte interna da orelha de bovinos e eqüinos, porque é uma parte escura, que não está exposta diretamente à luz do Sol. Animais de estimação também podem ser marcados para que, em caso de fuga ou roubo, seja possível identificá-los. A tinta foi produzida com matérias-primas nacionais e de baixo custo. “O que gasta mais tempo é retirar a carga das canetas para colocarmos a nossa tinta”, lamenta Lopes. “O ideal seria termos um parceiro que nos fornecesse as canetas com cargas vazias.” Ainda não há previsão de entrada no mercado, mas cada caneta deve ser vendida por um preço em torno de R$ 20. A tinta invisível já foi patenteada pela UFRJ e a idéia é que parte do lucro com a venda seja revertida para programas da universidade, como bolsas de iniciação científica, ajuda a estudantes carentes e bandejões.
A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro vai ganhar um aliado para desvendar crimes em que haja ocultação de provas. Pesquisadores do Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos (LASAPE) do Departamento de Química Analítica, Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram uma nova abordagem de síntese e formulação para o Luminol, substância que detecta vestígios de sangue, mesmo em locais que tenham sido exaustivamente lavados com produtos de limpeza. A grande vantagem do kit de Luminol, desenvolvido com apoio da FAPERJ, é o seu custo: dez vezes menor que o similar importado. Largamente utilizado por diversas agências de investigação criminal em todo o mundo, entre elas o FBI nos Estados Unidos, o Luminol formulado no LASAPE é um reagente que produz uma reação de quimioluminescencia sem necessitar a utilização da luz ultravioleta para caracterizar as manchas de sangue em locais sob suspeita de crime contra a vida humana. A sensibilidade química da substância é fantástica: ela consegue identificar manhas de sangue até a proporção de 1 em 1.000.000.000, mesmo em locais extremamente lisos, como azulejos, pisos cerâmicos e madeira, que inclusive já tenham sido lavados.
A eficácia do produto é tão grande que é possível detectar o sangue mesmo que já tenham se passado seis anos após a ocorrência do crime. Outra vantagem do produto é que a reação química produzida por ele não afeta a cadeia de DNA, possibilitando, assim, o reconhecimento dos criminosos ou das vítimas. “Se na época do assassinato do jornalista Tim Lopes, a polícia brasileira já utilizasse rotineiramente o Luminol, o trabalho dos peritos para descobrir o local do crime e fazer o reconhecimento dos restos mortais teria sido mais fácil”, afirma Cláudio Lopes, Professor do Departamento de Química Analítica da UFRJ. O kit do Luminol pode ser utilizado em diferentes locais, como o interior de uma casa, em ambientes abertos ou mesmo dentro do porta-malas de automóveis, que são utilizados com freqüência para a ocultação e transporte de cadáveres por criminosos. Para verificar se há vestígios de sangue, os peritos precisam borrifar as duas misturas de substâncias que compõem o kit e que produzem a reação de quimioluminiscência, semelhante à produzida pelos vaga-lumes.
Durante a reação, que dura cerca de 30 segundos e pode ser repetida, os peritos têm a oportunidade de verificar se há ou não presença de sangue no local. As dimensões e o formato da mancha, como por exemplo sob a forma de gotas ou espirrado, também são informativas e podem ser observadas. Essas evidências contribuem para a perícia criminal determinar se o crime foi cometido no próprio local, se o corpo da vítima foi transportado até ele, e mesmo se houve tentativa de ocultação de provas ou de simulação de suicídio por homicidas profissionais. Para testar a eficiência do kit do Luminol produzido no LASAPE, os pesquisadores da UFRJ cederam alguns kits para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O reagente foi utilizado para a investigação de cinco homicídios ocorridos na jurisdição de diferentes delegacias da cidade do Rio de Janeiro e usado recentemente nas investigações sobre a morte do chines naturalizado brasileiro Chan Kim Chang, numa sala do presídio Ary Franco. De acordo com o laudo dos exames periciais, o Luminol sintetizado pelo laboratório foi aprovado pelo ICCE. O kit também foi fornecido para o Centro de Criminalística da Polícia Militar e tem sido utilizado nas aulas práticas do curso de Oficial da PM.
Recentemente, a nova abordagem de síntese do Luminol desenvolvida no LASAPE e a sua aplicação em Química Forense receberam menção honrosa na XXIV Jornada de Iniciação Científica da UFRJ. O projeto foi conduzido pelos Professores Cláudio Cerqueira Lopes, Jari Nóbrega Cardoso, Rosângela Sabbatini Capella Lopes, todos do Departamento de Química Analítica, Instituto de Química- UFRJ; pela pós-doutoranda Jaqueline Alves da Silva, que é bolsista da FAPERJ; e pela aluna de iniciação científica do curso de Química da UFRJ, Letícia Gomes Ferreira, que realizou em bancada todas as etapas da preparação da nova formulação. De acordo com o Professor Jari Nóbrega Cardoso, o LASAPE tem capacidade para produzir 30 litros de Luminol por mês, volume suficiente para atender a demanda da Polícia Civil. A grande vantagem é que o kit feito na UFRJ poderia ser vendido a R$ 200, enquanto o similar importado chega a custar em torno de R$ 3 mil. Como o LASAPE não pode comercializar o produto diretamente, as secretarias de segurança e órgãos interessados precisam fazer um convênio com a Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) da UFRJ, para comprá-lo. Os recursos obtidos na comercialização serão reinvestidos na fabricação do reagente e empregados na manutenção das atividades de pesquisa do laboratório.
O baixo custo do kit pode ser explicado pela nova estratégia de síntese do reagente desenvolvida pelos pesquisadores da UFRJ. Segundo a Professora Rosangela Sabbatini Capella Lopes e a pós-doutoranda Jaqueline Alves da Silva, o processo de síntese é diferente do que geralmente é adotado para a obtenção do Luminol industrialmente, que exige condições reacionais sob alta temperatura e pressão. Outro fator determinante para a redução do preço é a nacionalização de todos os componentes utilizados. O pentacloreto de nióbio, é produzido e fornecido gratuitamente pela Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia (CBMM) de Araxá, Minas Gerais. Todo este novo trabalho de síntese e formulação do Luminol esta sendo patenteado no INPI, como forma de garantir as agências de fomento a pesquisa no país (FAPERJ, CNPq) e a própria UFRJ um retorno do investimento realizado no projeto. Os pesquisadores do LASAPE estão se dedicando a sintetizar novos derivados oxigenados do Luminol.
O objetivo principal é conseguir, através destas substâncias um aumento no tempo da reação de quimioluminescência, podendo ainda vir a ser encontrado neste grupo um reagente mais sensível à detecção de manchas de sangue comparativamente ao Luminol. Segundo os pesquisadores do LASAPE o reagente Luminol também pode ser utilizado com outras finalidades, como no diagnóstico precoce do cancer do aparelho digestivo, ou na determinação quantitativa de álcool e vitamina C em bebidas, sucos e refrigerantes.
Fonte:
http://www.ufrj.br/materia.php?cod=1544
http://cienciahoje.uol.com.br/view/1579
http://www.fundep.ufmg.br/homepage/noticias/1926.asp
http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA833835-3586-217034,00.html
acesso em novembro de 2004
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010160041110
acesso em março de 2005
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