Fármacos

Vacina contra Toxoplasmose

Cientistas do Instituto de Medicina Tropical e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares desenvolveram a primeira vacina contra a toxoplasmose. Ela é feita a partir da exposição do próprio parasita causador, o Toxoplasma gondii, à radiação. A dose de 200 graus não mata o protozoário, mas quebra seu DNA e o impede de se duplicar pela reprodução assexuada. O parasita irradiado é injetado no sangue do paciente e se instala normalmente nas células. Sua presença estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos e citocinas, impedindo uma infecção grave. A eficiência da vacina injetada já foi comprovada. A próxima etapa será testar sua forma oral, via por onde ocorre a infecção com o protozoário.

A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário denominado Toxoplasma gondii. Este agente pode infectar mamíferos em geral, tendo nos felinos seu hospedeiro definitivo, onde apresenta reprodução sexuada. O homem pode se infectar pela ingestão de oocistos eliminados pelas fezes de gatos infectados depositadas no solo, que acabam contaminando água ou alimentos; pela ingestão de cistos presentes em carnes de mamíferos (principalmente porco e carneiro) ingeridas sem cozimento adequado. Pode ocorrer também a transmissão transplacentária para os fetos de mães infectadas durante a gravidez. Se o sistema imune do indivíduo está bem, a pessoa permanece assintomática. Mas se por algum motivo esse quadro se altera, a doença pode provocar lesões graves ao sistema nervoso e lesões oculares que podem levar à cegueira. O diagnóstico da toxoplasmose baseia-se na associação das manifestações clínicas com o perfil sorológico. A presença de IgM específica ou a elevação nos títulos de IgG indicam infecção recente. Setenta a 95% da população apresenta sorologia positiva (IgG), indicando infecção pregressa. O tratamento da toxoplasmose é feito através da administração de antibióticos por duração prolongada (6 semanas). As medidas preventivas incluem o consumo de água potável apenas e a não ingestão de carne crua ou mal cozida. Deve-se ter cuidado com fezes de gatos.

O Centro de Biologia Molecular do Ipen já utilizava a radiação para diminuir a toxicidade do veneno de serpentes usado para fabricação de soros antiofídicos. Para o toxoplasma, depois de alguns testes, as doses de radiação foram estabelecidas. Percebeu-se que com o parasita mantido vivo a resposta do sistema imune era melhor. O projeto de mestrado, finalizado em 1998, contou com o apoio do CNPq e da Capes. No trabalho de doutorado de Roberto Hiramoto sob orientação do prof. Heitor Franco, defendido em 2002 e apoiado pela Fapesp e CNPq, a vacina foi testada em camundongos. Segundo Heitor:“”Um trabalho feito pelo pessoal do Ipen tinha mostrado que as toxinas do veneno de cobra, quando eram irradiadas com raios gama, induziam uma resposta melhor nos macrófagos [células do sistema imune]”, afirma. Foi então que surgiu a idéia de usar esse princípio para criar uma forma de imunização mais confiável contra o Toxoplasma gondii. A irradiação do parasita foi feita em uma fonte de cobalto-60, instalação do Centro de Tecnologia das Radiações do Ipen. Os camundongos imunizados receberam os cistos via oral, na forma em que as pessoas infectadas têm contato com o protozoário. Não houve mortalidade nos animais imunizados e pouquíssimos cistos foram localizados. O cérebro de um animal infectado sofre uma série de lesões. Nos animais imunizados, exames mostraram que as lesões eram bastante reduzidas, mesmo tendo os animais recebido grande quantidade de cistos. É preciso testar a vacina em outros animais de maior porte para depois se iniciarem os testes clínicos, mas a perspectiva é promissora.

Fonte: http://www.dialogomedico.com.br/dialogo062002/web/estetoscopio/default.asp
http://www.sosdoutor.com.br/sosinfeccao/toxo.htm
 
http://www.ipen.br/scs/orbita/2002_07_08/toxoplasmose.htm
 
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u6532.shtml
 
acesso em fevereiro de 2003