O Sistema Cantareira de captação e tratamento de água é o maior da região metropolitana de São Paulo. Produzem 33 mil litros de água por segundo e abastece 8,8 milhões de pessoas. Contudo, em longos períodos de estiagem, o volume de água diminui muito, o que leva à necessidade de racionar o consumo. A solução encontrada pelo engenheiro Takeshi Imai, do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), foi fazer chover. Ele falou sobre os inventos na palestra Chuvas Artificiais, realizadas na tarde de quinta-feira, 6 de outubro, no Centro Comunitário Athos Bulcão da Universidade de Brasília (UnB), pela programação da 2ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Imai começou a lidar com a natureza como vilã. Dono de uma empresa de pulverizadores na década de 1970, ocupava-se em jogar inseticidas nas plantações. Mais tarde, passou a produzir motosserras. Após testar um modelo potente cortando um pé de jacarandá com mais de 200 anos, arrependeu-se, guardou a máquina e mudou de ramo. Em 1979, passou a estudar e pesquisar métodos para produzir chuva artificialmente. O processo é simples.
Um radar meteorológico detecta as nuvens. A partir daí se inicia a Operação Pajé: um avião bimotor carregado de água potável entra na nuvem e, em voo cego (sem pontos de referência visual), semeia “gotas coletoras”. Cada gota coletora absorve as gotículas da nuvem para produzir a chuva. Coletando um milhão de gotículas de nuvem, faz-se uma gota de dois milímetros. Essa gota pesa e cai. Em outras palavras: chove. De acordo com Imai, para cada litro de água potável semeada obtém-se, com chuva, quantidade suficiente para abastecer 15 mil caminhões-pipa. “O custo é baixo. Às vezes, em um único voo, a gente provoca quatro ou cinco chuvas”, afirma. Entre os anos de 2003 e 2004, as chuvas artificiais, que por enquanto só acontecem no Sistema Cantareira e em Santa Catarina, foram responsáveis por 31% das precipitações que abasteceram o complexo de São Paulo.
Recentemente Imai passou a estudar também o crescimento das nuvens. Dessa forma, quando a nuvem encontrada ainda é muito pequena, ele provoca seu crescimento artificial por meio da mesma tecnologia. Em seguida, faz novo sobrevoo para “fazer a chuva”. “O método é eficaz e deveria ser utilizada no nordeste brasileiro, região carente de água. O vice-presidente aprovou a ideia, mas ainda não conseguimos falar com o presidente Lula”, lamenta. Apesar de ainda não haver estudos conclusivos a respeito de possíveis consequências causadas por essas modificações, Imai garante que são mudanças conscientes que visam a restaurar os estragos já feitos pelo homem. “Hoje a gente sofre os impactos das intervenções inconscientes que se fez. O que eu faço é tentar consertar. E uso o que a natureza dá: água potável”, garante.
Depois de conquistar, em 2005, a medalha de ouro no Simpósio Anual da Água em Cannes, na França, com o trabalho das chuvas artificiais, o engenheiro quer ir além. Começa a viabilizar a criação de florestas em áreas desérticas ou com solo infértil. “Para que as chuvas tenham efeito, é preciso que também haja uma cobertura vegetal”, explica. Nessa iniciativa, Imai leva em helicópteros adaptados mudas de plantas inseridas em casulos em forma de flecha. Essas plantas são ‘bombardeadas’ no solo. Suas raízes são previamente preparadas para vingar em uma região adversa. Com as chuvas naturais e artificiais, o engenheiro espera que a mata floresça, regenerando, assim, a natureza.
Uma tecnologia desenvolvida por um engenheiro brasileiro em parceria com a Sabesp está ajudando a empresa de saneamento de São Paulo a enfrentar a escassez de chuvas nas regiões de mananciais. A tecnologia, que começou a ser desenvolvida pelo engenheiro Takeshi Imai em 2001, foi a responsável, segundo a empresa, por 31% das chuvas no sistema Cantareira entre outubro de 2003 e fevereiro de 2004.A Sabesp investe no processo desde 2003. Por meio de um avião bimotor, carregado de 300 litros de água potável, entra-se dentro da nuvem escolhida pelo radar, A união de gotículas já existentes na nuvem com as aplicadas pelo avião forma gotas maiores, que propiciam as chuvas.
Em 2009, aos 67 anos, Takeshi Imai continua a estudar para aprimorar sua invenção e para encontrar novas formas de ajudar a natureza. Um de seus projetos é o reflorestamento aéreo com as ‘árvores-flechas’ – para ser lançadas de avião -, por meio do qual é possível plantar 50 mil mudas por hora. ‘Onde não há vegetação, não há nuvens, e sem nuvens é impossível fazer chover, afirma Imai. Outro projeto é o Cross Flow, que procura desafogar o caótico trânsito de São Paulo e reduzir as emissões de CO2, causadora do efeito estufa. Trata-se de módulos de concreto que podem ser montados, num fim de semana, nos principais cruzamentos da cidade, eliminando os semáforos e diminuindo o engarrafamento. Além de não ter custo elevado, o método de fazer chover com água pura poderiam evitar e apagar incêndios, e ajudar a resolver uma série de problemas, como a seca no Nordeste e a estiagem em produções agrícolas, reservatórios e hidrelétricas. ‘Minha preocupação não é ganhar dinheiro, mas achar soluções urgentes para deter a degradação do planeta e o acelerado processo de aquecimento global’, diz Imai. ‘As mudanças climáticas são muito mais sérias do que dizem.’ Nesse caso, Imai não arrisca fazer previsões. “Ele está escrevendo um livro e suas descobertas – e novas invenções – estarão todas ali.”
Fonte: http://www11.estadao.com.br/ext/diariodopassado/20020616/000200227.htm de Guilherme Evelin e Pamela Nunes
http://www.empresario.com.br/memoria/entrevista.php3?Pic_me=449
http://www.unb.br/acs/especiais/c_t2-07.htm
Acesso em novembro de 2005
http://pessoasempessoa.blogspot.com/2008/11/takeshi-imai-figura-mpar.html
http://www.joaodefreitas.com.br/senhor-das-chuvas.htm
Acesso em fevereiro de 2011