Medicina

Flexiteste

Dois brasileiros, o especialista em medicina esportiva Cláudio Gil Araújo e o professor de educação física Roberto Pável, da Universidade Gama Filho, desenvolveram no final dos anos 70, um método simples e inédito de avaliação da flexibilidade, o flexiteste, que será lançado este ano em livro pela editora americana Human Kinetics. Trata-se da maior editora do mundo na área de exercícios e a publicação vem acompanhada da sugestão de que a invenção brasileira seja adotada nas escolas para avaliar a flexibildade de milhões de estudantes dos Estados Unidos. Para Cláudio Gil, o que lhe deixou orgulhoso foi o reconhecimento da criatividade dos cientistas brasileiros. “Que uma invenção de dois professores brasileiros seja adotada como padrão de avaliação por todas as escolas americanas é chique, não é?”, brinca.

 

O flexiteste consiste em medir a mobilidade máxima de 20 movimentos corporais, incluindo as articulações do tornozelo, do joelho, do quadril, do tronco, do punho, do cotovelo e do ombro, sem aquecimento prévio. Cada movimento é medido em uma escala de zero a quatro, no total de cinco níveis de flexibilidade. O teste é aplicado por um médico ou por um professor de educação física, que força o movimento nas articulações do paciente até o ponto máximo de amplitude, facilmente detectado devido à resistência mecânica ao prosseguimento da execução ou ao relato de desconforto do avaliado. O grau de flexibilidade é definido quando a amplitude alcançada é comparada com padrões de flexibilidade, que vão de zero (flexibilidade praticamente inexistente); um (baixa); dois (média); três (grande); e quatro (muito grande). O flexiteste é hoje ensinado na maioria das faculdades de educação física do país e já foi tema de diversas teses pós-graduação. “O teste foi adotado pelo Ministério da Aeronáutica e é aplicado durante os exames periódicos dos militares. Muitas academias de ginástica também já o utilizam para avaliar seus alunos”, diz. O flexiteste permite que os graus alcançados em cada um de seus 20 movimentos sejam somados para a obtenção do ‘flexíndice’, que vai de uma escala de zero a oitenta, sendo que os graus zero ou oitenta, segundo o especialista, nunca foram obtidos na prática. “A tendência central da flexibilidade é o valor dois. Os valores um e três são menos frequentes e os zero e quatro são bastante raros”, comenta Cláudio Gil.

Pela natureza da escala e pelo modo como foram propositadamente desenhados os mapas de avaliação, observa-se uma distribuição gaussiana para os dados, de forma que a tendência central é o valor 2, os valores 1 e 3 são menos frequentes e os valores extremos, isto é, 0 e 4 são bastante raros. Dessa forma, muito embora a análise do Flexiteste possa e deva ser feita para cada um dos movimentos e/ou articulações, é válido somar os resultados obtidos nos 20 movimentos isolados e obter um índice global de flexibilidade ou mobilidade articular denominado de Flexíndice, o que representa uma grande vantagem em relação à goniometria, onde isto não é possível de ser f eito. Em adendo, com a natureza gaussiana das escalas de cada movimento e a global, é possível estudar todo o espectro da mobilidade, já que os valores extremos máximos – 0 e 80 pontos – nunca foram, na prática, obtidos. Dessa forma, não houve os denominados efeitos solo e/ou teto, que tanto dificultam a utilização clínica de certos testes mais simples. Vários estudos de fidedignidade intra e inter -observadores feitos com fotos de modelos ou com medidas reais em indivíduos mostraram sistematicamente altos coeficientes de correlação intraclasse para o Flexiteste.

Durante as pesquisas para a criação do flexiteste, foram avaliadas três mil pessoas entre 5 e 85 anos, atletas e sedentários, que permitiram uma série de constatações feitas pelos professores sobre os padrões de flexibilidade da população brasileira. Pelas pesquisas de Gil, a média de flexibilidade é semelhante entre meninas e meninos até os 6 ou 7 anos, mas a partir dessa idade as mulheres começam a se tornar sistematicamente mais flexíveis que os homens. A flexibilidade da criança se reduz drasticamente até a adolescência. Já dos 16 até os 40 anos, a redução da flexibilidade se dá de modo mais lento. A partir dos 40, porém, a queda da flexibilidade volta a se acelerar e recebe influência de outros fatores como padrão de atividade física e nível de saúde. O treinamento físico da flexibilidade, porém, melhora a mobilidade em qualquer faixa etária. A hipermobilidade (mais de 70 pontos no ‘flexíndice’) é mais comum na infância e nas mulheres. Essa alta flexibilidade é exigida por algumas modalidades esportivas, como a ginástica olímpica ou o balé, mas, em outras modalidades, como o judô e o futebol, são alcançados desempenhos desportivos excepcionais com valores relativamente baixos em flexibilidade.

 

Fonte: http://www2.uol.com.br/JC/_2001/1202/fa1102_7.htm

http://www.alexandrepingitoreribeiro.hpg.com.br/flexiteste.htm

Acesso em março de 2003